O ecossistema de inovação no Brasil tem amadurecido significativamente, com startups de diferentes setores ganhando espaço e atraindo investimentos. No entanto, o setor de saúde, que deveria ser um dos mais dinâmicos, ainda enfrenta desafios significativos. O CB Insights Venture Report Q3-2024, uma das principais publicações globais sobre o mercado de venture capital, destaca essas tendências e oferece uma visão clara sobre onde estamos e o que ainda falta para que o Brasil consolide seu papel como um hub de inovação em saúde.
Para contextualizar, o CB Insights é uma plataforma de análise e inteligência de mercado que se tornou referência em monitorar a atividade de venture capital e inovação tecnológica em todo o mundo. Seus relatórios trimestrais são usados por investidores, empresas e governos para entender as dinâmicas de crescimento em setores estratégicos, como saúde, fintechs, e-commerce e outros. Com dados abrangentes, o CB Insights fornece uma visão detalhada das tendências de investimento e os principais players envolvidos.
O Cenário Global de Venture Capital no Q3-2024
Globalmente, o mercado de venture capital está se recuperando após um período de desaceleração. O terceiro trimestre de 2024 mostrou um total de US$ 54,7 bilhões em investimentos distribuídos em cerca de 6.056 negócios, um aumento em relação ao trimestre anterior, embora ainda distante dos picos observados em 2021.
No entanto, o Brasil e a América Latina, como um todo, ainda recebem uma parcela modesta desse total. Para o terceiro trimestre, a América Latina acumulou apenas US$ 0,8 bilhões em 185 negócios fechados, destacando a necessidade de uma maior integração do ecossistema regional com os fluxos globais de investimento. Esse número, embora consistente com o histórico da região, é preocupante quando consideramos o potencial de inovação presente no país.

Saúde Digital: Uma Oportunidade Não Aproveitada
Um dos pontos mais intrigantes do relatório foi a ausência de startups de saúde digital entre os principais destaques da América Latina. O setor de saúde digital tem sido uma área de forte crescimento globalmente, especialmente após a pandemia, com soluções que variam de telemedicina a aplicativos de monitoramento de saúde. O CB Insights Venture Report Q3-2024 indica que, globalmente, o setor de saúde digital recebeu US$ 3,3 bilhões em investimentos em 301 negócios, mas a América Latina teve participação mínima nesses números.
A ausência de startups brasileiras de saúde nos destaques do relatório é preocupante. Apesar de iniciativas inovadoras surgindo no país, como healthtechs focadas em inteligência artificial, big data e novos modelos de atendimento, ainda há um gap considerável em relação à captação de recursos e à visibilidade internacional.
O Contexto Econômico Brasileiro
Parte desse desafio pode ser atribuída ao cenário macroeconômico do Brasil. A inflação elevada, a taxa de juros alta e a volatilidade do mercado são barreiras significativas para startups que buscam financiamento em estágio inicial. Esses fatores fazem com que os investidores internacionais fiquem mais cautelosos em relação ao mercado brasileiro, preferindo direcionar seus recursos para regiões mais estáveis ou com melhores perspectivas de retorno.
Além disso, o ambiente regulatório para inovação no Brasil ainda pode ser visto como um obstáculo. A falta de agilidade nos processos regulatórios e a burocracia envolvida no setor de saúde dificultam o crescimento de startups de saúde digital, que dependem de rapidez para testar, validar e escalar suas soluções.
Caminhos para Startups Brasileiras de Saúde
Apesar dos desafios, existem caminhos promissores para as startups de saúde no Brasil que buscam atrair investimentos:
Foco em Saúde Preventiva e Acessibilidade: A crescente demanda por soluções que possam ampliar o acesso à saúde, especialmente em áreas remotas e carentes de infraestrutura, representa uma oportunidade para startups que queiram criar impacto social e, ao mesmo tempo, atrair investidores interessados em negócios de impacto.
Apoio de Programas de Fomento: Organizações como o BNDES, a Finep e a Embrapii continuam sendo fontes valiosas de financiamento para inovação. Esses programas oferecem suporte financeiro e técnico para startups que buscam desenvolver tecnologias disruptivas no setor de saúde.
Parcerias Internacionais: O Brasil precisa ampliar sua presença em redes internacionais de inovação. A participação em eventos globais, como a BIO International Convention ou a Web Summit, pode ajudar startups brasileiras a se conectarem com investidores internacionais e empresas estabelecidas que buscam oportunidades em mercados emergentes.
Inovação Aberta: Um dos caminhos mais viáveis para startups brasileiras é buscar parcerias com grandes empresas e hospitais, que podem se beneficiar dessas inovações através de programas de inovação aberta. Essas colaborações ajudam a reduzir os riscos de entrada no mercado e aumentam a visibilidade para potenciais investidores.
Preparação para Captação: As startups brasileiras precisam se preparar melhor para as rodadas de investimento, apresentando dados robustos, projeções claras de crescimento e modelos de negócio validados. Quanto mais transparentes e profissionais forem em sua abordagem, maiores as chances de atrair capital.
Perspectivas Futuras
O CB Insights Venture Report Q3-2024 indica que, globalmente, o setor de saúde ainda tem muito espaço para crescer, com novas tecnologias emergindo constantemente. Para o Brasil, o foco deve estar em como conectar sua rica diversidade de inovações ao fluxo global de capital. Startups que conseguirem se posicionar como soluções estratégicas para problemas globais de saúde, como o envelhecimento da população e o aumento de doenças crônicas, têm grandes chances de sucesso.
Além disso, o fortalecimento de hubs de inovação e parques tecnológicos no Brasil pode ajudar a criar um ecossistema mais favorável para startups. Investimentos em infraestrutura, políticas públicas de incentivo e maior integração com o setor privado serão essenciais para o crescimento futuro.
O Brasil tem um imenso potencial no setor de inovação em saúde, mas para capitalizá-lo, será necessário um esforço conjunto entre governo, investidores e empreendedores. O CB Insights Venture Report Q3-2024 é um lembrete de que, embora o cenário global esteja se recuperando, o Brasil ainda precisa superar desafios importantes para se destacar no panorama internacional.
Startups brasileiras de saúde devem olhar para o futuro com otimismo, mas com os pés no chão, buscando parcerias, investimentos estratégicos e um forte foco em soluções que realmente possam transformar a saúde no Brasil e no mundo.
Acesse o relatório completo clicando aqui.

por Marcio de Paula
Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS
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