Brasil, Biotech e a Arte de Pensar Grande: como sair do "modo piloto" e ocupar o tabuleiro global
- Alma Mater Cosméticos
- 2 de jun.
- 3 min de leitura
Em um país onde a criatividade muitas vezes é celebrada mais como improviso do que como estratégia, falar de biotecnologia com ambição global ainda soa como um luxo raro. Mas não deveria. A biotecnologia – em sua intersecção com a saúde, a ciência e a economia – não é apenas um setor promissor: é um eixo de soberania, inovação e futuro. O problema? Estamos, na maioria das vezes, operando em modo piloto.
Este artigo é um convite a pensar grande. E mais: a pensar de forma conectada com o mundo. É possível desenvolver startups brasileiras em biotecnologia com ambição global? Como escapar da armadilha da subescala, da dependência crônica de fomento e da desconexão com os fluxos internacionais de inovação?
A resposta, como veremos, passa pela qualidade da articulação entre startups, corporações biofarmacêuticas e um ecossistema que saiba jogar o jogo inteiro, e não apenas a primeira rodada.
A promissora mas inacabada arquitetura das biotech brasileiras
O Brasil tem ativos valiosos. Forma bons cientistas, tem uma base industrial crescente, centros de pesquisa de referência e um dos maiores sistemas de saúde do mundo. Segundo o relatório "Deep Techs Brasil", da Emerge, mais de 40% das deep techs brasileiras atuam em saúde e biotecnologia. Esse dado confirma o potencial. Mas também revela um paradoxo: mesmo com ciência e tecnologia pulsantes, a taxa de translação para o mercado é baixa.
Poucas startups atingem maturidade regulatória ou constroem um roadmap de internacionalização. Há um abismo entre a bancada e o mercado, entre o protótipo e a validação, entre o paper e o pitch. E mais: há uma dificuldade estrutural em pensar negócios em escala global desde a origem.
Isso se reflete também na falta de estratégias de proteção intelectual robustas, na pouca familiaridade com pathways regulatórios estrangeiros (FDA, EMA) e na escassez de early adopters institucionais. Estamos, muitas vezes, "refinando soluções" para um mercado que ainda não existe. O desafio? Alinhar capacidade científica a uma lógica de negócio global e sustentável.
O jogo da biotecnologia é internacional. E exige alianças sérias.
Ao contrário das techs tradicionais, a biotecnologia não permite atalhos. Uma startup de biotecnologia nasce exigindo tempo, regulação e rigor técnico. Mas também exige conexões reais. Conexões com quem compra, regula, valida e escala. E isso se conquista com alianças de longo prazo.
No Brasil, poucas startups têm acesso a corporações dispostas a co-desenvolver. E poucas corporações estruturam processos reais de inovação aberta com biotech. O modelo de inovação vigente ainda é excessivamente verticalizado, com baixa tolerância ao risco tecnológico e foco em soluções prontas. Isso exclui a maioria das startups deeptechs.
O que falta, portanto, é um ambiente intermediário. Um espaço onde corporações possam se aproximar das startups sem a expectativa imediata de ROI, mas com uma agenda clara de aprendizado mútuo, codesenvolvimento e posicionamento estratégico.
Países como Suíça, Bélgica e Israel têm estruturas sofisticadas de incentivo à colaboração startup-indústria — muitas delas ancoradas por fundos mistos, laboratórios compartilhados e programas de validação tecnológica. É urgente que criemos mecanismos equivalentes por aqui.
Internacionalização: o Brasil ainda pensa pequeno demais
Internacionalizar não é um prêmio para quem deu certo. É um pré-requisito para competir no setor mais globalizado da economia. A biotecnologia opera com ciclos longos, exigências regulatórias convergentes e cadeias de valor interdependentes. Pensar global não é opção — é estrutura.
Mas como fazer isso em um país que ainda carece de instrumentos para soft landing, acesso a hubs de inovação e preparo regulatório internacional?
A resposta passa por três pilares:
Mentalidade: Startups precisam ser formadas com uma visão internacional desde o início. A pergunta "qual país você quer impactar?" precisa entrar no canvas.
Intermediação estratégica: Parcerias com instituições conectoras, que operam como ponte entre conhecimento técnico, agenda regulatória e conexões com o mercado global, são fundamentais.
Apoio institucional alinhado: APEX, FINEP, Embaixadas, BNDES e universidades precisam agir de forma coordenada. Programas de internacionalização não podem ser genéricos — devem ser pensados para as particularidades das biotech e healthtechs.
O papel do IBIS: sofisticar o jogo e construir ecossistema
A ponte entre startups e mercado exige mediação qualificada. O IBIS foi criado para isso: conectar startups de base científica a quem pode amplificar seu valor. Fazemos isso com inteligência de mercado, diagnóstico estratégico, formação, e abertura de agendas com os atores certos no Brasil e fora dele.
Somos uma empresa privada, mas com mentalidade de articulação pública. Entendemos os códigos da ciência e os códigos do capital. Operamos com uma escuta ativa das dores reais do mercado e das aspirações legítimas dos inovadores.
Nosso convite, neste momento, é claro: o futuro da saúde exige pensamento grande, alianças sérias e capacidade de execução. O IBIS está pronto para ser esse lugar de convergência.
Mais do que falar de inovação, estamos construindo os instrumentos para que ela floresça.
Quem vem conosco?

por Marcio de Paula
Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS
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